terça-feira, 13 de outubro de 2009

As minhas preocupações



O que mais me preocupa neste caso do GBOEX é a apatia dos associados diante da gravidade da situação. Não reagem diante da verdadeira situação do GBOEX, estampada nos pareceres técnicos da SUSEP e do próprio atuário da entidade que repete o alerta em todas as avaliações atuariais: o déficit atuarial não corrigido está consumindo o patrimônio do GBOEX.
Preferem acreditar na cultura do contentamento que os dirigentes criaram e cuja estratégia foi bem explicada pelo marqueteiro que cuida da sua propaganda desde os anos 80, quando foi inquirido pelo juiz sobre a veracidade do slogan criado “GBOEX, líder em Previdência Privada no Brasil” (que já foi considerado propaganda enganosa pelo Ministério Público e gerou um termo de ajustamento), arrogantemente corrigiu, dizendo que não era do Brasil, mas América Latina:

Juiz: O GBOEX tem título ”GBOEX, líder em previdência privada no Brasil”: por que deixou de utilizar este título?
Testemunha: Na verdade, não era.... que vocês sabem que em termos de comunicação a gente sempre usa superlativos e no sentido exatamente de melhorar a imagem, mostrar que.... não era do Brasil, era da América Latina”. (2098-2100)
“Testemunha: Como eu já expliquei o GBOEX tem, pelo tipo de produto que ele vende, as pessoas que compram o produto vão usufruir desse produto 40, 50 anos depois, ela tem que ter a segurança de que essa empresa tem estabilidade, tem solidez para poder nesse prazo cumprir com as suas obrigações. Então, o meu trabalho é trabalhar a imagem do GBOEX para mostrar que a empresa tem solidez, é uma empresa forte”.


Para “melhorar a imagem” e para estimular pessoas a comprar um “produto que vão usufruir 40, 50 anos depois” é necessário passar por uma empresa que tem solidez, que é forte. Mesmo que para isso se precise criar uma imagem que passa muito longe da realidade.

É ilustrativo cotejar o editorial do “Informativo GBOEX”, com tiragem de 130 mil exemplares, em que o GBOEX é comparado com “um baú de pedras preciosas e jóias raras” com a realidade apontada no pareceres da SUSEP e nos resultados publicados:

Deterioração do Patrimônio Líquido e da Liquidez:
Em 2005 a SUSEP alertou que “considerando o desequilíbrio operacional relatado no item 1 e as incertezas levantadas no item 2, tanto o Patrimônio Líquido como a liquidez apresentada pelo GBOEX podem se deteriorar rapidamente”e os gráficos confirmam. Em setembro/2009, o Patrimônio Líquido caiu de R$ 254 milhões para R$ 100 milhões e a Liquidez baixou para 0,8 o que significa que possui somente oitenta centavos para cada real de dívida, no curto prazo.

A condenação do plano de pecúlios
O mais dramático: a SUSEP não vê outra saída para o plano de pecúlios que responde por ¾ da arrecadação do GBOEX que não seja “sacrificar o produto”, visto que o rejuvenescimento da massa de participantes se tornou inviável, depois do parecer que considera necessária “a suspensão imediata da comercialização do plano de pecúlio por taxa média”.


“Sacrificar o produto” significa dar um calote em uma massa de uns 150 mil associados cuja idade média beira os 75 anos e que passou a vida inteira descontando para garantir um pecúlio para seus beneficiários. Trechos de pareceres da SUSEP:

a) “Outra medida que, entendemos, faz-se necessária é a suspensão imediata da comercialização do plano de pecúlio por taxa média, objeto do Processo SUSEP no 001.10931/79, uma vez que a inscrição de novos participantes no plano não é garantia de melhora do resultado, em função dos aspectos já ressaltados nos itens “I” e “II” deste parecer”. (Parecer SUSEP/DETEC/GEPEP/DIPLA No 13486/2005, fls.1441)

b) “Óbvio que, caso as medidas de soerguimento do produto através do rejuvenescimento da massa de participantes resultem inócuas, pode-se sacrificar o produto através da aplicação de reajustes técnicos, o que possibilitaria levar o produto à expiração de forma mais equilibrada, sem sobrecarregar o resultado positivo dos outros produtos da entidade, nem os seus resultados financeiros e patrimoniais. Por outro lado, porém, a medida, além de constituir-se em motivo de insatisfação a grande número de associados, vez que se trata de produto que representa praticamente ¾ da carteira de pecúlios da entidade, aceleraria sobremaneira o processo de expiração do produto, pela expulsão da parcela mais jovem de participantes, o que exigiria mais e mais reajustes técnicos, realimentando um ciclo de extinção do produto e de sobrecarga gradativa para os que remanescessem no plano”. (Termo de Diligência Fiscal SUSEP/DEFIS/GRFRS No. 007/2005, 30/5/2005, fls. 1269/70)

O GBOEX repassou a metade dos seus imóveis para a Confiança
O GBOEX, em uma operação esdrúxula, que chega às raias de um desfalque patrimonial, repassou a metade dos seus imóveis, no valor de R$ 20 milhões, para Confiança Cia. de Seguros, conforme reconhece o seu presidente em carta a seguir reproduzida. A Confiança os reavaliou por R$ 44 milhões e incorporou ao seu patrimônio.
Ou seja, o GBOEX socorreu a sua seguradora jogando R$ 44 milhões do seu patrimônio no mar de incertezas que fez naufragar a maior seguradora dos Estados Unidos, a AIG. Socorreu com a metade do seu patrimônio imobiliário, formado, ao longo de mais de 90 anos, para garantir o pagamento futuro dos pecúlios.
O patrimônio do GBOEX destina-se a assegurar os encargos futuros com o pagamento dos pecúlios dos milhares de associados da Entidade (Art. 75 do Estatuto); só pode ser aplicado em percentuais adequados e dentro de critérios de rentabilidade, segurança e liquidez, observadas a diversificação e as condições de mercado dentro da conjuntura econômica do País (Art. 80).

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