quinta-feira, 4 de julho de 2013

A cultura do contentamento

O GBOEX colocou, na sua página na internet, depoimentos sobre o centenário. Depoimentos, segundo seu presidente-executivo, “que demonstram que o GBOEX configura um caso de sucesso e um exemplo de entidade séria e comprometida com a sociedade brasileira”, depoimentos que comprovam “o quanto o GBOEX Previdência e Seguro de Pessoas é uma entidade com credibilidade e muito respeitada pelo público”. Chavões da cultura do contentamento que este grupo de oficiais do Exército criou para manter milhares de associados enganados durante estes últimos trinta anos.
Gostaria de deixar meu depoimento porque duvido que alguém saiba mais do que eu sobre o GBOEX dos últimos trinta anos. Principalmente para registrar a verdade que está sendo escamoteada por estes depoimentos.

Como sei que por motivos óbvios que este canal está fechado para mim, pincei depoimentos de pessoas que conheci neste universo chamado GBOEX. Refiro-me aos coronéis Junqueira e Cafruni e o empresário Airton Rocha. Pessoas respeitáveis que transmitem credibilidade mercê de suas atividades profissionais.

Por acaso o coronel Junqueira, oficial com prestígio dentro do Exército e um dos ícones do mercado de previdência e seguros no RS, não sabe a situação real do GBOEX?

Não pediria a ele que nos convidasse para “um regresso há cem anos atrás, buscando o grupo de idealistas que plantou a ideia da previdência no seio do Exército”, como faz em seu depoimento, mas que se fizesse um regresso ao fim  dos anos 70 e se lembrasse da tomada do poder por este grupo que até hoje comanda o GBOEX sem qualquer oposição, porque todos os que hoje lá estão são crias ou crias das crias do fundador e líder do MLD – Movimento Luta e Diálogo que atropelou, inclusive o próprio coronel Junqueira.

Formador de opinião na área de seguros e previdência, ele sabe que o GBOEX quadruplicou seu efetivo de sócios, nos anos 60, aproveitando-se da credulidade de uma população pouco esclarecida, despreparada para entender os efeitos da perda de poder aquisitivo da moeda, o negócio apoiava-se em especulação com as taxas futuras da inflação – um jogo de cartas marcadas no qual desde o início sabia-se que os perdedores seriam os adquirentes dos planos”, conforme constatou a CPI da Previdência Privada (Câmara dos Deputados, 1996, p18) e eu acrescento: no caso do GBOEX, aproveitando-se do prestígio granjeado pelos militares no início da Revolução de 1964.

Ele sabe que na “implantação da regulamentação da Lei 6435/77, tinha-se como certo que não seria possível a adaptação dos planos de benefícios operados antes da vigência da Lei pela completa ausência de embasamento técnico. Esperava-se de uma grande operação de saneamento no setor” (idem, p21); que a intenção do governo era acabar com estas “arapucas” e que as medidas corretivas só não foram tomadas pela “presença de militares que comandavam ou tinham ligações com grandes montepios, fator de peso político considerável na época. Não havia vínculo formal dos montepios com as Forças Armadas, porém induzia-se a população a acreditar no contrário, já que o nome de organizações militares integravam a denominação social de vários montepios” (idem, p18). MFM, Capemi, Coifa, Casomi, GBOEX.

Isso tudo pode ser resumido pela constatação do MPF no Inquérito Civil Público ICP 020/2010-97 quando avaliou a situação atual do GBOEX: Vislumbra-se que o plano de pecúlio que a GBOEX não corre risco de insolvência desde agora, ou recentemente, mas sim desde que começou a comercializar apólices de seguro que não teria como adimplir”. Qualquer dúvida basta ler Os coveiros do GBOEX.



Conheci o Cafruni em 1964, quando cheguei, Aspirante a Oficial, na 2ª Cia Me Mnt e ele era quase capitão na unidade vizinha e serviu, no primeiro almoço, como se fosse garçon, no tradicional trote na aspirantada. Figura simpática que eu nunca mais vi. Pois, o Cafruni deve olhar todo mês o seu contracheque e notar que a mensalidade do GBOEX está crescendo de forma absurda, visando levar os velhos associados a pedir exclusão, deixando para trás uns cinquenta anos de contribuição em uma operação que o MPF considera ilegal. Os elogios do seu velho pai eram mais do que justos porque aquela gente honesta de “reputação ilibada, íntegra e batalhadora” que dirigia o GBOEX formou o patrimônio que hoje este grupo está dilapidando (Fraude contra credores).



Airton Rocha: sem restrições ao seu depoimento, pois esta a sua função. Arquiteto desta cultura de contentamento, lá no inicio dos anos 80. Sua missão, como ele mesmo descreveu diante de mim, do Renk, dos respectivos advogados e do juiz (Proc. no. 10502272590/16ª Vara Cível/Porto Alegre), quando perguntada a razão do título por ele criado ”GBOEX, líder em previdência privada no Brasil” que fora considerado propaganda enganosa pelo Ministério Público do RS: " Na verdade, não era.... que vocês sabem que em termos de comunicação a gente sempre usa superlativos e no sentido exatamente de melhorar a imagem, mostrar que.... não era do Brasil, era da América Latina”, “como eu já expliquei o GBOEX tem, pelo tipo de produto que ele vende, as pessoas que compram o produto vão usufruir desse produto 40, 50 anos depois, ela tem que ter a segurança de que essa empresa tem estabilidade, tem solidez para poder nesse prazo cumprir com as suas obrigações. Então, o meu trabalho é trabalhar a imagem do GBOEX para mostrar que a empresa tem solidez, é uma empresa forte”.

A eficiência deste profissional e de sua empresa torna-se ainda maior quando se constata que o título ”GBOEX, líder em previdência privada no Brasil”, ou melhor, da América Latina, foi criado em cima do relatório da CPI da Previdência Privada que considerou o GBOEX como o maior dos furos da previdência privada, detentor de 63% dos ativos das entidades de previdência com problemas.

Justificado orgulho pelo sucesso do trabalho junto ao GBOEX, por ter sido o arquiteto de uma cultura do contentamento que conseguiu enganar tantos por tanto tempo, por trinta longos anos. Ao contrário da conclusão do seu depoimento, o tempo também ensina que tudo pode ficar pior à medida que ele passa, se o objetivo não for o coletivo, mas os interesses de poder pelo poder. Uma cultura do contentamento, capaz de enganar muitos por muito tempo, não se faz com vigaristas, mas com gente que permite que inescrupulosos usem o seu prestígio para enganar os outros.

Gente insensível a depoimentos de milhares de colegas pedindo exclusão por terem sido enganados por mais de 50 anos, por não suportarem mais o valor das mensalidades. Como um velho instrutor nosso na AMAN que, indignado, comunicou ao presidente do GBOEX que prefere se “desvincular de pessoas como vocês. Sei que é isso que querem de nós associados, mas, prefiro perder muito mais em relação ao que iria recebe, do que me submeter a essa chantagem vergonhosa, principalmente, partindo de oficiais que eu ajudei a formar.

E aí arremata o Renk, presidente-executivo, na contramão de tudo isso: “Não por acaso, estamos construindo, uma trajetória sólida e transparente, atuando com seriedade, competência e respeito aos valores éticos e às pessoas”. Mesmo diante de duras reclamações, na internet, sobre o atraso no pagamento do pecúlio, como a de um beneficiário que chegou a chamar o GBOEX de esta instituição podre, dirigida por milicos podres!”.

Constatação dura, mas real: aqui um exemplo do Brasil que as ruas querem exorcizar, o Brasil da lassidão moral, o Brasil da enganação. Gente com credibilidade, por ação ou omissão, ajuda o GBOEX a enganar uma massa de milhares de brasileiros que envelheceram contribuindo para ter um benefício e que agora serão obrigados a pedir sua exclusão dentro de um plano arquitetado pelo órgão controlador cuja função é proteger os interesses dos consumidores (A participação da SUSEP no logro do GBOEX).


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