O GBOEX
colocou, na sua página na internet, depoimentos sobre o centenário. Depoimentos,
segundo seu presidente-executivo, “que demonstram que o GBOEX configura um caso
de sucesso e um exemplo de entidade
séria e comprometida com a sociedade brasileira”, depoimentos que comprovam
“o quanto o GBOEX Previdência e Seguro de Pessoas é uma entidade com credibilidade e muito respeitada pelo público”.
Chavões da cultura do contentamento que este grupo de oficiais do Exército criou
para manter milhares de associados enganados durante estes últimos trinta anos.
Gostaria
de deixar meu depoimento porque duvido que alguém saiba mais do que eu sobre o
GBOEX dos últimos trinta anos. Principalmente para registrar a verdade que está
sendo escamoteada por estes depoimentos.
Como sei
que por motivos óbvios que este canal está fechado para mim, pincei depoimentos
de pessoas que conheci neste universo chamado GBOEX. Refiro-me aos coronéis
Junqueira e Cafruni e o empresário Airton Rocha. Pessoas respeitáveis que
transmitem credibilidade mercê de suas atividades profissionais.
Por acaso
o coronel Junqueira, oficial com prestígio dentro do Exército e um dos ícones
do mercado de previdência e seguros no RS, não sabe a situação real do GBOEX?
Não
pediria a ele que nos convidasse para “um regresso há cem anos atrás, buscando
o grupo de idealistas que plantou a ideia da previdência no seio do Exército”, como
faz em seu depoimento, mas que se fizesse um regresso ao fim dos anos 70 e se lembrasse da tomada do poder
por este grupo que até hoje comanda o GBOEX sem qualquer oposição, porque todos
os que hoje lá estão são crias ou crias das crias do fundador e líder do MLD –
Movimento Luta e Diálogo que atropelou, inclusive o próprio coronel Junqueira.
Formador de opinião na área de seguros e previdência, ele sabe que o GBOEX quadruplicou seu efetivo de sócios, nos
anos 60, “aproveitando-se da credulidade de uma
população pouco esclarecida, despreparada para entender os efeitos da perda de
poder aquisitivo da moeda, o negócio apoiava-se em especulação com as taxas
futuras da inflação – um jogo de cartas marcadas no qual desde o início
sabia-se que os perdedores seriam os adquirentes dos planos”, conforme
constatou a CPI da Previdência Privada (Câmara dos Deputados, 1996, p18) e eu
acrescento: no caso do GBOEX, aproveitando-se do prestígio granjeado pelos
militares no início da Revolução de 1964.
Ele sabe que na “implantação da regulamentação da Lei 6435/77, tinha-se como certo que
não seria possível a adaptação dos planos de benefícios operados antes da
vigência da Lei pela completa ausência de embasamento técnico. Esperava-se de
uma grande operação de saneamento no setor” (idem, p21); que a intenção do
governo era acabar com estas “arapucas”
e que as medidas corretivas só não foram tomadas pela “presença de militares que comandavam ou tinham ligações com grandes
montepios, fator de peso político considerável na época. Não havia vínculo
formal dos montepios com as Forças Armadas, porém induzia-se a população a
acreditar no contrário, já que o nome de organizações militares integravam a
denominação social de vários montepios” (idem, p18). MFM, Capemi, Coifa,
Casomi, GBOEX.
Isso tudo pode ser resumido pela constatação do
MPF no Inquérito Civil Público ICP 020/2010-97 quando avaliou a situação atual
do GBOEX: “Vislumbra-se que o plano de pecúlio que a
GBOEX não corre risco de insolvência desde agora, ou recentemente, mas sim
desde que começou a comercializar apólices de seguro que não teria como
adimplir”. Qualquer dúvida basta ler Os coveiros do GBOEX.
Conheci o Cafruni em 1964, quando cheguei,
Aspirante a Oficial, na 2ª Cia Me Mnt e ele era quase capitão na unidade
vizinha e serviu, no primeiro almoço, como se fosse garçon, no tradicional
trote na aspirantada. Figura simpática que eu nunca mais vi. Pois, o Cafruni
deve olhar todo mês o seu contracheque e notar que a mensalidade do GBOEX está
crescendo de forma absurda, visando levar os velhos associados a pedir
exclusão, deixando para trás uns cinquenta anos de contribuição em uma operação
que o MPF considera ilegal. Os elogios do seu velho pai eram mais do que justos
porque aquela gente honesta de “reputação ilibada, íntegra e batalhadora” que
dirigia o GBOEX formou o patrimônio que hoje este grupo está dilapidando (Fraude contra credores).
Airton
Rocha: sem restrições ao seu
depoimento, pois esta a sua função. Arquiteto desta cultura de contentamento,
lá no inicio dos anos 80. Sua missão, como ele mesmo descreveu diante de mim,
do Renk, dos respectivos advogados e do juiz (Proc. no. 10502272590/16ª Vara
Cível/Porto Alegre), quando perguntada a
razão do título por ele criado ”GBOEX, líder em previdência
privada no Brasil” que fora considerado propaganda enganosa pelo Ministério
Público do RS: " Na verdade, não era.... que vocês
sabem que em termos de comunicação a
gente sempre usa superlativos e no sentido exatamente de melhorar a imagem,
mostrar que.... não era do Brasil, era da América Latina”, “como eu já expliquei o GBOEX tem,
pelo tipo de produto que ele vende, as pessoas que compram o produto vão
usufruir desse produto 40, 50 anos depois, ela tem que ter a segurança de que
essa empresa tem estabilidade, tem solidez para poder nesse prazo cumprir com
as suas obrigações. Então, o meu
trabalho é trabalhar a imagem do GBOEX para mostrar que a empresa tem solidez,
é uma empresa forte”.
A eficiência
deste profissional e de sua empresa torna-se ainda maior quando se constata que
o título ”GBOEX, líder em previdência privada no Brasil”, ou melhor, da América
Latina, foi criado em cima do relatório da CPI da Previdência Privada que
considerou o GBOEX como o maior dos furos da previdência privada, detentor de 63%
dos ativos das entidades de previdência com problemas.
Justificado
orgulho pelo sucesso do trabalho junto ao GBOEX, por
ter sido o arquiteto de uma cultura do contentamento que conseguiu enganar
tantos por tanto tempo, por trinta longos anos. Ao contrário da conclusão do
seu depoimento, o tempo também ensina que tudo pode ficar pior à medida que ele
passa, se o objetivo não for o coletivo, mas os interesses de poder pelo poder.
Uma cultura do contentamento, capaz de enganar muitos por muito tempo, não se
faz com vigaristas, mas com gente que permite que inescrupulosos usem o seu
prestígio para enganar os outros.
Gente insensível
a depoimentos de milhares de colegas pedindo exclusão por terem sido enganados
por mais de 50 anos, por não suportarem mais o valor das mensalidades. Como um velho instrutor
nosso na AMAN que, indignado, comunicou ao
presidente do GBOEX que prefere se “desvincular de pessoas como vocês. Sei
que é isso que querem de nós associados, mas, prefiro perder muito mais em
relação ao que iria recebe, do que me submeter a essa chantagem vergonhosa, principalmente,
partindo de oficiais que eu ajudei a formar”.
E aí
arremata o Renk, presidente-executivo, na contramão de tudo isso: “Não por
acaso, estamos construindo, uma trajetória sólida e transparente, atuando com
seriedade, competência e respeito aos valores éticos e às pessoas”. Mesmo
diante de duras reclamações, na internet, sobre o atraso no pagamento do pecúlio, como
a de um beneficiário que chegou
a chamar o GBOEX de “esta instituição podre, dirigida por milicos
podres!”.
Constatação
dura, mas real: aqui um exemplo do Brasil que as ruas querem exorcizar, o
Brasil da lassidão moral, o Brasil da enganação. Gente com credibilidade, por
ação ou omissão, ajuda o GBOEX a enganar uma massa de milhares de brasileiros
que envelheceram contribuindo para ter um benefício e que agora serão obrigados
a pedir sua exclusão dentro de um plano arquitetado pelo órgão controlador cuja
função é proteger os interesses dos consumidores (A participação da SUSEP
no logro do GBOEX).