Qual
a explicação para tal absurdo, de uma empresa, em quatro anos, mobilizando
diretores e conselheiros regiamente pagos, em viagens por este Brasil afora e um
exército de corretores turbinados por generosa comissão de agenciamento, conseguir
a façanha de encolher a sua carteira de pecúlios em quase 30 mil pecúlios?
A
explicação começa pelo fato de que alvo é a massa de associados na faixa etária
dos 70 aos 80 anos que, assediada por espertos corretores, acabam contratando
sem saber ou por eles são induzidos a contratar o que não querem e acabam
cancelando logo que percebem ou que se vêem livres do corretor. A rotina é a
seguinte: ligam do GBOEX comunicando ao associado que estão fazendo uma
atualização de dados cadastrais e que ele será visitado.
No
dia marcado, uma pessoa se dizendo do GBOEX, se apresenta, abre um formulário e
começa a preenchê-lo com dados do associado. Ao final, pede para que o
formulário seja assinado e se despede.
Denúncias
registram que, na entrevista, é repisado que “O GBOEX é do Exército”, que “o
recadastramento do pecúlio é obrigatório” e que, no caso de pensionistas, “se
não fizer um pecúlio perderá a pensão da Força Armada a qual pertence”. Sem
saber, o associado acaba de assinar a proposta para ingresso no tal plano Vida
Longa GBOEX o que alguns só vão perceber se forem verificar o valor descontado
no contracheque. Existem casos de sócios que foram incluídos até pelo telefone.
Gananciosos e inescrupulosos, corretores “embutiam mais R$500,00 de
mensalidades em seus contracheques”, conforme registra uma das denúncias.
E o
GBOEX alardeia o sucesso da venda de milhares de planos. Diretores correm pelo
Brasil recebendo prêmios como campeões de vendas e distribuindo motos, automóveis
e outros prêmios para corretoras e corretores. Desconhecem, no entanto, denúncias
como a de um de ex-funcionário que agora se confirmam com os dados da SUSEP:
“Números? O que adianta números? Eu fazia a inserção e observava a quantidade
de cancelamentos de faixa que a empresa vem sofrendo. Então o que adianta
números? Entra 10 e cancela-se 5, 6 ou mais? Que números são esses?”.
Não
se pode esquecer que uma parcela destes cancelamentos deve-se à “expulsão” que
começou a ser executada, a partir de 2007, com uma sucessão de reajustes da
mensalidade visando forçar o sócio a pedir exclusão.
Tudo
isso vem a confirmar o que já foi constatado: o GBOEX passou os últimos trinta
anos explorando uma carteira de pecúlios condenada, enganando os associados e atropelando
a legislação. Não foi capaz de evoluir, de acompanhar o mercado, de se tornar competitivo.
Fruto, conforme já constatou o MPF, da “má gerência administrativa” de um grupo
de oficiais do Exército que comanda a entidade com salários que dificilmente
ganhariam no mercado, pela falta de experiência. Fruto da conivência da SUSEP,
conforme já demonstrado (A
participação da SUSEP no logro do GBOEX).
Transformaram
o GBOEX em uma entidade obsoleta que somente se enquadra no ramo Previdência
Privada pelo vínculo que mantém através de pecúlios que “nunca são comprados espontaneamente em função
do produto, mas sim
vendidos, acompanhados de promessas de empréstimos e outros artifícios”,
conforme constatou a CPI da Previdência Privada (Câmara dos Deputados, 1996).
O
GBOEX passou anos recorrendo à venda casada de pecúlios com empréstimos
consignados (desconto em folha de pagamento) até que foi descartado pela
concorrência dos bancos que se adonaram deste rico filão. Dados da SUSEP
mostram que já no período 2001-2007, a rejeição era muito grande com os Cancelamentos
quase igualando as Inclusões, conforme pode ser visto na tabela, pois o funcionário
interessado em um empréstimo sem as formalidades de consulta cadastral aceitava
a condição de contratar um pecúlio que depois era cancelado:
Enxotado do rico filão dos
empréstimos consignados, restou ao GBOEX recorrer a “outros artifícios”, como o
plano de pecúlios Vida Longa, centrando o alvo na massa de associados, na faixa
dos 70 a 80 anos, os mais fáceis de enganar porque ainda acreditam nos
militares.
Imaginem
o prejuízo do GBOEX: paga uma comissão de agenciamento que, segundo consta, é
de 250%, ou seja, as duas primeiras e a metade da terceira mensalidades ficam
com o corretor. Imagine um plano de R$ 200,00/mês: significa que o GBOEX vai
pagar R$ 500,00 de comissão para, depois, cancelar. Imagine, agora, o que
ganharam nas costas do GBOEX que teve mais de 400 mil cancelamentos, além de
motos e automóveis, despesas de viagens de diretores e gerentes que cruzam o
país “bombando” vendas cujo resultado deve ter dado prejuízo para o GBOEX, mas
bons resultados para os seus parceiros corretores.
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